Atividades físicas e o calor

Com a chegada da primavera – na verdade, cada vez mais parece que pulamos do inverno direto para o verão – mais uma vez temos de nos adaptar a realizar exercícios físicos no calor, pois nossa capacidade física sofre por dois motivos diferentes em situações de estresse térmico. O primeiro deles é o aumento da temperatura corporal, e ligado a ele surge o segundo, que é o aumento da quantidade de batimentos cardíacos.

Como o meio externo está mais quente, nosso corpo enfrenta mais dificuldades para perder o excesso de calor produzido durante o exercício. Isto acontece porque a eficiência do suor em nos resfriar depende de a temperatura da pele estar mais alta que a temperatura ambiente. Nosso mecanismo de regulação térmica basicamente envolve levar o calor produzido no interior do corpo para mais próximo da pele, através do sangue. A pele é mais fria que o resto do corpo porque o suor retira o seu calor para evaporar, e assim o sangue “quente” que vem do interior do corpo é resfriado. Se a temperatura externa estiver muito alta, as gotículas de suor caem do corpo sem conseguir evaporar e resfriar a pele, e nossa temperatura corporal aumenta mais que em dias frios.

O corpo humano é extremamente sensível em relação à temperatura ótima de funcionamento, e o aumento da temperatura corporal automaticamente nos deixa mais cansados. Aumentar nossa percepção de esforço é uma excelente ferramenta para nos forçar a diminuir o ritmo de uma atividade, a por consequência diminuir a taxa de produção de calor do organismo, permitindo então que ele se resfrie.

Apesar de o corpo humano ter um dos mecanismos de controle de temperatura extremamente eficiente – um dos melhores entre os mamíferos – nosso suor também possui um preço um tanto alto. A questão é que parte da água utilizada para produzir o suor vem do próprio sangue. O coração então enfrenta dois problemas: primeiro, precisa deslocar um grande volume de sangue para próximo da pele, o que o força a trabalhar mais; e segundo, com o volume de sangue diminuído, pois parte dele virou suor, o coração precisa trabalhar ainda mais para suprir as demandas da atividade. É por esse motivo que quando nos exercitamos no calor, mesmo que numa intensidade constante, os batimentos cardíacos tendem a aumentar com o passar do tempo, podendo se elevar em até 20 batimentos quando comparados à mesma situação num clima mais ameno.

A boa notícia é que nosso corpo se adapta rapidamente ao calor, já a partir da primeira exposição, e em cerca de duas semanas já estamos em condições muito melhores para lidar com estes “problemas”. É necessário planejar um pouco melhor a hidratação, por exemplo antes de sair para correr na rua, onde a oferta de líquidos pode ser mais limitada. No entanto, não é necessário criar uma estratégia “forçada” de hidratação (beber além da sede durante o exercício), e confiar na sabedoria do organismo é a melhor orientação que se pode dar no momento.

Fernando Beltrami – Even Faster Sports

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