A crise hídrica tem solução?

Não é de hoje que a água doce está se tornando um recurso escasso no planeta Terra. Ambientalistas já alertam há mais de duas décadas que a água que precisamos para viver está para acabar. Neste ano, o Sudeste brasileiro teve uma prova deste alerta. Já outras regiões, como o Nordeste, vivem essa crise há muito tempo. Até o Amazonas e o Pantanal têm sofrido, esporadicamente, com a estiagem.

Mas, o problema vai além da questão climática. Especialistas apontam outros culpados como os governos e os cidadãos de um modo geral. Por isso, muita gente tem dito que um dos pontos positivos da seca atual é aprendermos com ela e começarmos a tratar com mais cuidado a água de que dispomos e nossos recursos hídricos.

Problemas de gestão

Esse grau de fragilidade hídrica não foi alcançado apenas pela falta de chuva. Como sempre, há um conjunto de medidas que se somaram para construir o cenário: a gestão da água feita como se os recursos fossem inesgotáveis, ou seja, como se sempre fosse possível expandir a captação, a perigosa aproximação entre oferta e demanda e uma gestão de crise que revelou fragilidades quando a escassez ficou mais acentuada.

A crise atual exige união e compartilhamento de responsabilidades com respostas sistêmicas, metas e ações de curto, médio e longo prazos. Assim, é correto que o governo exerça papel protagonista para fomentar e implementar soluções múltiplas, com escala e impacto que atinjam diversos setores de uma só vez. Mas também cabe aos consumidores de água, empresas e organizações da sociedade civil desempenhar seu papel de corresponsabilidade.

Esvaziamento dos reservatórios

Os imensos reservatórios que dispomos, tanto para o abastecimento de água como de eletricidade, deveriam ser tratados como cadernetas de poupança: quanto mais tirarmos de lá, sem repor, um dia ficaremos sem. Ou seja, a verdadeira causa da crise atual não é janeiro e fevereiro de 2015 terem sido os meses mais secos da história, e sim, o fato dos reservatórios terem esvaziado progressivamente desde janeiro de 2012 até dezembro de 2014, quando chegaram ao pior nível da história.

O volume de água neste triênio foi o pior, ou um dos piores. No entanto, esta resposta não é verdadeira no caso do setor elétrico. Se compararmos as vazões que chegaram às hidrelétricas no triênio 2012-2014 com as dos 81 triênios do passado verificaremos que em 15 destes triênios ocorreram secas piores do que a atual.

A única explicação que sobra – a verdadeira – é que a capacidade de geração real é menor do que se pensava, devido a falhas no planejamento de construção das usinas e das linhas de transmissão. Todos nós, cidadãos, sabemos que às vezes as coisas saem muito errado por causas externas – como nas crises cambiais, por razões institucionais e políticas, como na hiperinflação, ou por falhas de planejamento, como no racionamento de 2001.

A reação magnífica da população em todas estas crises torna imperdoável que não se aprenda com os erros cometidos. Na situação atual, mesmo que as crises de água e energia sejam aliviadas “aos 48 minutos do segundo tempo” pela combinação de medidas heróicas e de boas chuvas, é fundamental que a má experiência contribua para o fortalecimento da cidadania.

Fonte: Uol Educação

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